quarta-feira, 6 de abril de 2011

SIM MEU MUNDO É COR-DE-ROSA

       Estou sem tempo para escrever hoje, mas me lembrei de um texto que gosto muito. Ainda penso em voltar a frequentar os Centros de Tradições Gaúchas, de escutar uma bela declamação, de me embalar nas danças tradicionalistas. Sinto falta de muita coisa daquela época...

Apreciem:

DOS RETALHOS DE UM MUNDO COR-DE-ROSA
Julio César Paim
Quando ouço alguém dizer
que o mundo está chegando ao fim,
uma lágrima escapa de meus olhos e cai no chão.
Mas de cada pedacinho dela
nasce outra estrelinha em forma de coração!

Só eu sei o quanto é difícil
explicar pra gente grande
tudo o que se passa nos meus olhos!

Só eu sei o que já sonhei
e por ser sonho, há de se realizar!
Só eu sei os brinquedos que inventei...
...Os caminhos pelos quais passei pra chegar aqui.
O mundo mágico que inventei,
sem que quase ninguém tivesse se dado conta
da minha invenção!...

Há quem pense que a minha vida
esteja resumida
numa bonequinha de pano cor-de-rosa...
Até pode ser!
Mas ela tem os pés no chão...
É ela que faz os meus dias azuis de sol
e, minha alma essência de flor,
com raízes profundas no solo do tempo!...

Mas então qual a razão
da velha interrogação
que já criou rugas no espelho?
De que jeito expressar
todo amor pelo meu chão?...
Talvez...talvez (não gosto muito dessa palavra),
acho que fui eu que inventei esse verbo
"talvessiar" - tentar cruzar o rio da vida
num barquinho que não tem direção...
...Que não tem coração.
Que não leva a lugar algum...

Prefiro pôr um vestido de chita,
uma flor no cabelo!...
...E pôr o selim no meu sonhar petiço
e partir ao sem fim, em busca do ideal-mor...
...Do meu princípe azul de estrela d'alva no ombro!...

Aí, os meus olhos voam...
Parecem pequenos colibris em forma de luz!
E, enquanto vôo percebo que no campo
e, além dele, há pétalas de flores
caindo, partindo ao vento, pra dar lugar
a outras essências que virão depois!...

Fica apenas a imagem reflatida
na menina de meus olhos,
perplexa, diante um tempo velho
que não tem mais tempo
de ouvir seu próprio silêncio,
de parar e me escutar
que eu também tenho histórias pra contar...
O meu bisavô e a mãe da minha avó
me contaram cada uma!
-Quase sem usar palavras.

Ou alguém ouviu uma estrela falar?
Cada estrela tem seu brilho, seu jeito
de fazer-se canto, canção de ninar...
De se deixar revelar...
Algumas amam tanto esse chão que,
de vez enquanto, descem a escadinha zul
do céu, pra me contar de seu tempo!...

Só espero, que um dia,
os homens grandes
encontrem um tempinho de olhar uma estrela
e, lembrar de mim...
Afinal de contas: nas pequenas coisas
está a essência de tudo...
Quando esse dia chegar
e alguém olhar uma estrela,
quem sabe todos cheguem a conclusão
que eu cheguei:
-O mundo dos meus sonhos está longe...
...Muito longe do fim!

Um comentário:

  1. Linda essa poesia! Eu gosto de uma música tradicionalista que diz "Meus desassossegos sentam na varanda pra matear saudade"... Acho que essa saudade gostosa da infância, da vida no interior e de quando eramos apenas crianças sonhadoras em busca de sua estrelinha mágica....

    ResponderExcluir